quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Vidros Partidos

Era velho. Cansado, indiferente.
Quando lhe bateu nem sentiu mais que isto.
Sentiu as rugas que lhe pesavam na testa,
o suor que já era doce de escorrer só por escorrer.
Sentiu a sede e que devia ter snifado mais uma.
A culpa.
A culpa era fria e dava-lhe mais para bater em si do que nela.
Antes disso, voltou-se para a sua idade e para os velhos dela.
Mais um golo e o arrepio,
aquela sede que já nem ela podia acarinhar.
Solidão.
Por isso lhe bateu até doer,
até sangrar,
até deixar de respirar.
Até lhe arrancar a pele por ser a dele que doía.
O vento!
Foi só mais uma janela sem vidro e o desejo de voar.
Livre.
Afinal sentia.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O eterno marido

Os espíritos fracos, dotados apenas de uma falta de personalidade gritante, são talvez os mais insidiosos na prossecução dos seus fins e ideias.
Normalmente são fins e ideias de outros que adoptam para si até lhes esvaziarem o sentido.
E a falta de sentido, de fio condutor, é do que mais desorienta quem pensa.
O crime pode deparar-se nos seus caminhos como o instrumento ou passo seguinte na conversão dos incréus. Aqui, não há consciência que os possa absolver ou culpar porque não têm sequer sentimento de penitência racional. Este sentimento existe quando há uma sensação de superioridade moral e de carácter sobre os restantes. Aqui não.
Aqui, há talvez uma compaixão que os trava no último minuto.
É a fraqueza em modo cristão.