segunda-feira, 29 de agosto de 2011

As mulheres da noite já não têm medo da solidão
Começam a dormir quando se põe a noite e ao acordar só querem um corpo quente a seu lado se for para lhes oferecer um copo de vinho, um cigarro ou um beijo em silêncio.
As mulheres da noite trocam confidências entre sim até ao nascer do dia, ao seu amante, ou à falta dele, guardam um sussurro de quase-amor. Não tiram a maquilhagem porque o sol é demasiado cruel para quem vive de noite.
Não são putas. Não. Não vendem o corpo por dinheiro mas por prazer entre risinhos de amor-emprestado.
Em cada bar da cidade há uma dessas mulheres.
Talvez não consigam ir para casa enquanto o marido bêbado não dorme.
Talvez procurem pedaços de alguém que as faça sentir reais.
Talvez tentem conquistar a juventude entre cada bebida, só a lua é juiz.
Talvez tenham preferido a independência ao rebanho macho.
Talvez só queiram esquecer-se.
Conheci uma dessas mulheres do outro lado do balcão. O excesso de amor deixou-lhe cicatrizes por quase todo o corpo, o que não a impede de ser uma mulher bonita.
Valeu a pena, diz-me. Depois de doer ele abraçava-me, apertava-me toda nas suas mãos e eu sabia que todo o mundo acabava ali. Há quem me chame cobarde, fraca, machista, doente. Eu tenho pena de quem nunca sentiu que um corpo era pouco, comparado com a completude, o amor-total. Desde que o matei que não consigo voltar para casa de noite. Não é a solidão. É de mim que sinto falta.

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