segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Majestic

É aquele ar triste, pensei. É aquele ar triste que me fascina.
A fatalidade marcada entre o fumo de um cigarro displicente, o batom meio morto, esbatido da noite, na noite. E fuma, como se lambesse de uma só vez toda a paisagem em redor, todo o público que não pediu, que já não lhe interessa, que já não vê. Não hoje. Hoje o mundo mede-se na distancia entre cinzeiro e lábios, entre cigarro e cigarro.
Pede mais um cosmopolitan e ri. Ri às gargalhadas como quem sabe que aquela bebida traz consigo a marca da futilidade americana, do esteve-na-moda-e-comigo-ainda-está, do gay da noite, que outros há?
E a cada gole é como se caísse, como se cada engolir de saliva alcoólica a empurrasse mais na vertigem. Lágrimas pretas dissolvem-se na gargalhada amarga, lágrimas-rimel, lágrimas-morte.
Os mais velhos olham indignados, como fazem sempre que pensam estar perante um confronto de gerações, e pensam sempre.
Os mais novos cobiçam, sentindo-se tão maiores do que mostra a sua sombra.
E a miúda-mulher só agora os vê, surpreende-se neste precipício-fotografia, já não cai.
Levanta-se e enche a sala, o vestido turquesa larga o perfume do fim do dia e desaparece para onde o sol se põe.
O vácuo da sala desaparece, volta o bulício.
A mim arde-me a pele, dói-me a certeza: era a puta mais bonita do mundo.


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