terça-feira, 4 de outubro de 2011

V.

A v. chorou baixinho hoje de manhã.
Depois de voltar ao seu controle frio disse-me que ia sair de casa porque já não gostava de mim.
Acabou, só isso, já não sinto que te pertença, já não sinto nada, já não gosto de ti. Desculpa.
E foi.
Deu-me o abraço que sabia que eu precisava, limpou-me as lágrimas que viriam e foi.
Senti a certeza de que tinha mesmo acabado.
A v. costumava esconder o dinheiro ou coisas que lhe davam em todas as caixinhas que encontrava. Precisava de preencher todos os vazios.
Eu acho que ela nunca deixou de sentir-se sozinha.
A minha v. saiu da nossa vida apenas com uma mala à tiracolo e o saquinho da erva.
Deixou-me com tudo o resto, como se houvesse mais alguma coisa depois dela.
A minha v. tomou uma quantidade absurda de comprimidos e meteu-se no carro, a conduzir devagar. Tinha todo o tempo do mundo, como quando se é jovem, como nós somos.
Eu sabia a certeza de que tinha mesmo acabado.

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