quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Runaway train

Estava bonita como só tu compreenderias.
O branco mármore da cara a desaparecer por entre cachos negros que tapavam os olhos apenas na medida certa.
Um véu que mantém entre si e o mundo. Sempre o teve.
As sardas de um Verão tardio desenhavam um caminho estelar por todo o corpo.
Sempre quase nu. Sempre completamente intransponível.
Dançava quase transparente entre a noite que é dela.
Ria entre cocktails branco-gin, branco-vodka, branco-md.
Foi dando e recebendo com o seu corpo aquilo que já não tinha para dar com o coração.
A outros corpos, sem pessoas.
Mas o olhar não o deu nunca.
O seu cheiro, ninguém o sabe.
Ao percorrer o caminho de volta à sua vida sentiu uma leveza de morte.
De vida.
Sentiu desprender-se da pele o que foi, o que não seria.
Sentiu que sem ti não valia a pena ter corpo, por mais quente que mantivesse a sua cama.
Deixou-se ir.
Foi.
Não sabe se volta.

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